Mestrado MCL - Pesquisa

Esse blog foi criado para a troca de informações entre alunos e professores do MCL - Mestrado em Comunicação e Linguagens da UTP. A idéia é facilitar o intercâmbio de dados para o desenvolvimento de pesquisas da área.

Monday, June 27, 2005

Blogs comos armas dos cidadãos

Enquanto deputados e ministros discutiam em Brasília o destino da política brasileira no ano de véspera das eleições presidenciais, no último dia 14 de junho, um novo modelo de jornalismo demonstrou estar surgindo. Se nos Estados Unidos ou na Europa os diários on-line, os chamados blogs, já se tornaram corriqueiros, na mídia brasileira esta modalidade ainda está sendo debatida e revelada. Os meios de comunicação de massa como os jornais, rádios e televisões já vinham, gradativamente, se preparando para o mundo da Internet, disponibilizando grande parte de seus conteúdos on-line. No entanto, a rede mundial de computadores traz a cada dia inovações e os blogs, que surgiram primeiramente como uma febre entre adolescentes, se transformaram em fontes de informações preciosas. O jornalismo digital ganhou mais um aliado. Os blogs jornalísticos, independentes ou afiliados a grupos de comunicação, estão se difundindo e se reproduzindo na web como se fossem vírus, de um tipo que sendo bem usado não faz mal à ninguém.

Ao contrário, a proposta dos blogs jornalísticos é aprofundar a informação fornecida pelos meios de comunicação tradicionais, mesmo os on-line. Tudo porque os blogs fogem do padrão dos veículos, não precisam seguir a fórmula engessada da pirâmide invertida, tampouco se prendem à rigorosidade do lead. Os jornalistas-blogueiros, muitos que ainda atuam em jornais impressos ou on-line, utilizam os blogs como um espaço para que a função social do jornalismo, de informar e permitir a participação do leitor, seja atingida. É na web que o jornalismo parece estar alcançando o objetivo de democratizar a informação e de promover a democracia em si.

Porém, como a tecnologia é muito recente e a sociedade não está preparada para as mudanças que a Internet vem propiciando, nem mesmo os próprios meios de comunicação sabem como reagir ao boom dos blogs. Nos Estados Unidos, onde a prática já é mais comum, há veículos que proíbem que seus jornalistas disponibilizem dados em blogs. Outros fazem ainda pior, permitem a criação de blogs desde que seu conteúdo passe por uma edição prévia. A volta da censura, em outro meio, não é justificada em uma época em que se fala em liberdade de imprensa, de opinião e onde a informação está ao alcance de um ou dois cliques no mouse. Segundo o jornalista Alexandre Cruz Almeida, no Brasil o jornal O Globo saiu na frente ao oferecer a seus colunistas a possibilidade de ter um blog. "Apesar de O Globo hospedar esses blogs dentro do seu próprio site, não há qualquer tentativa de controle do conteúdo. Os colunistas-blogueiros não receberam quaisquer instruções sobre que tipo de conteúdo seria adequado incluir nos blogs. A única regra: não deixar o blog parado mais de uma semana. De certo modo, O Globo está brincando com fogo. Alguém que leia um determinado conteúdo em um blog de um funcionário de O Globo dentro do site do próprio O Globo estaria completamente justificado em presumir estar lendo um conteúdo endossado por O Globo."

A preocupação de Almeida é compreensível, já que os editores podem controlar o que é publicado na versão impressa e na on-line, tratando-se de uma empresa de comunicação isto é essencial, porém os blogs não passam pelo mesmo crivo, sendo que legalmente a responsabilidade da empresa jornalística é a mesma. O risco é de que as posições dos blogueiros passem a ser encaradas como posições oficiais e acarretem danos como processos judiciais. Há quem pense que os blogs não representam risco algum por serem ainda muito pouco utilizados. Ledo engano, embora não se esteja falando de meios de comunicação de massa, o jornalismo feito pelos blogueiros é "consumido" por um número elevado de usuários da Internet que de alguma forma podem afetar os formadores de opinião. No caso específico da CPI dos Correios foi o que aconteceu. Conforme o consultor de marketing on- line, Alessandro Barbosa Lima, o blog do jornalista Ricardo Noblat fez com que o deputado petista Eduardo Suplicy fosse favorável à instauração da comissão parlamentar, contra os próprios colegas de partido. " Suplicy assinou a CPI dos Correios depois de ler os comentários dos blogueiros sobre o tema no seu blog. Noblat fez a afirmação em entrevista a Jô Soares, na Rede Globo, nesta terça-feira, dia 31 de maio. Os blogueiros usaram a ferramenta de comentários do blog do Noblat demonstrando serem a favor da assinatura da CPI. E o senador Suplicy, como político orientado pela opinião pública, não titubeou ao considerar este comentários como um termômetro do que pensam seus futuros eleitores". Desta forma, Lima destaca que os blogueiros podem, sim, influenciar microaudiências e afetar todo o país.

No caso do depoimento do deputado do PTB, Roberto Jefferson, na comissão de ética da Câmara de Deputados, os blogs tiveram um impacto considerável nos meios de comunicação tidos como tradicionais. Os blogs de Ricardo Noblat e Jorge Bastos Moreno trabalharam com uma agilidade improvável no jornalismo até então, pois as redes de televisão precisam de imagens e textos, as rádios de sonoras e os jornais impressos e on-line de material suficiente para ilustrar e preencher as páginas com entrevistas com no mínimo duas ou três fontes. Os blogs, por não terem uma linguagem definida, nem uma legislação, fizeram um jornalismo ágil, sem a preocupação com a objetividade que já se sabe que é só um mito.
Em cada texto foi possível perceber posições, até porque os dois jornalistas construíram suas narrativas de forma atrativa, com verbos no presente, expressões coloquiais e muita ironia. Eles possibilitaram a rememoração de fatos já ocorridos como o caso de Fernando Collor e das denúncias de Waldomiro Diniz. Com relação à importância dada ao tema, foi algo estrondoso, pois os blogs ocuparam-se o dia todo de transmitir informações da situação política. A única informação que quebrou esta corrente foi a do número de acessos.

O conteúdo das notícias postas, embora "aparentemente" mais fraco por se tratar de informações-pílula, foi bastante amplo e completo. Os detalhes do depoimento, as implicações sociais, os dados de novos escândalos... tudo foi apresentado, inclusive os contrapontos da questão com posições de outros parlamentares e integrantes do governo.

Em contrapartida, o conteúdo das notícias veiculadas nos jornais on-line seguiu o padrão do jornalismo impresso, com textos longos, depoimentos com aspas e travessões. A questão do estilo ficou de lado, sendo o texto sempre colocado de forma a proporcionar um ar de credibilidade, de distanciamento dos meios para com a questão. Além disso, ocorreu uma padronização das coberturas, já que todos os jornais on-line ou não, publicaram alterando apenas algumas palavras que Roberto Jefferson recebeu R$ 4 milhões de reais e que José Dirceu estava com "as mãos limpas". Essa padronização do texto selecionado e publicado é o que confirma a hipótese do agenda setting defendida por Maxwell McCombs e Donald Shaw desde a década 70. Por esta hipótese os meios, ao definirem o que merece ou não ser transformado em notícia, definem também a agenda dos leitores e determinam não como pensar, mas sobre o quê pensar. A CPI dos Correios e o depoimento de Roberto Jefferson serviram como um bom exemplo de agendamento por parte da mídia, mas mais do que isso, serviram para mostrar que os blogs podem ser uma alternativa para quem já está cansado de ver sempre o mesmo. Os blogs podem ser uma arma nas mãos dos cidadãos, se estes souberem utilizar a web para saírem do comodismo e partirem para a ação, nem que seja apenas por meio de seus comentários.



Referências bibliográficas (postagens Ana)
BERLO, David K. O processo da comunicação: Introdução à Teoria e à Prática. 9ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. São Paulo: Contexto, 2003.

LÈVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

MEDITSCH, Eduardo. O conhecimento do jornalismo. Florianópolis: Ed. UFSC, 1992.

MOHERDAUI, Luciana. Guia de estilo Web: Produção e edição de notícias on-line. 2ª edição. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2002.

SILVA, Juremir Machado da. A miséria do jornalismo brasileiro: As (in) certezas da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

SODRÉ, Muniz. Reiventando a cultura: a comunicação e seus produtos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

Sites utilizados:
http://radioclick.globo.com/cbn acesso em 14/06/2005
http://oglobo.globo.com/online acesso em 14/06/2005
http://folha.uol.com.br/ acesso em 14/06/2005
http://jbonline.terra.com.br/ acesso em 14/06/2005
Blogs fazem jornalismo?
http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/destaques-038.htm
Os Jornalistas e Os Blogs
http://www.sobresites.com/alexandrecruzalmeida/artigos/jornalistas.htm
Blog influencia CPI
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI543918-EI4831,00.htmlBLOGS
Ricardo Noblat
http://noblat.blig.ig.com.br/
Jorge Bastos Moreno
http://oglobo.globo.com/online/blogs/moreno/default.asp

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