Mestrado MCL - Pesquisa

Esse blog foi criado para a troca de informações entre alunos e professores do MCL - Mestrado em Comunicação e Linguagens da UTP. A idéia é facilitar o intercâmbio de dados para o desenvolvimento de pesquisas da área.

Monday, June 27, 2005

SITES X BLOGS: Quem ganha e quem perde na web?


Quanto ao valor da notícia – Os blogs deram mais atenção à cobertura do depoimento de Roberto Jefferson na Câmara do que os jornais e rádios on-line. Não que os demais veículos não tenham disponibilizado informações sobre o caso, mas tiveram de dividir espaço com outros assuntos que foram surgindo durante o dia. No entanto, numa espécie de acordo tácito todos os jornais e blogs avaliados deram grande importância às denúncias de corrupção, denúncias estas que desde o dia 14 de junho passaram a pautar a mídia brasileira e até mesmo a internacional. Talvez em razão dos dois blogs, o de Moreno e de Ricardo Noblat, abordarem especificamente política, a cobertura pôde ser mais ampla e mais eficaz.

Entretanto, é importante destacar que a crise política brasileira tornou-se um assunto de inegável pertinência, sendo que a grande diferença dos blogs para os jornais on-line em termos de abordagem da notícia foi o grau de aprofundamento. Por mais que os blogs trabalhem com textos bem curtos, com frases e com opiniões, ao que parece as informações foram mais completas, mais amplas e receberam maior destaque, tanto que os jornalistas responsáveis pelos blogs não ousaram tocar em outros assuntos durante o dia 14. A pauta foi constituída somente de dados sobre a corrupção e a crise política, desde os bastidores. Uma hipótese que justificaria essa exclusividade é a de que o público dos blogs é bem específico, bem segmentado, diferentemente dos demais meios de comunicação na web. Muitas vezes as notícias eram dadas primeiro nos blogs e depois se transformavam em matérias nos demais veículos on-line, pois assim já se tinha uma prévia do interesse público.
Neste sentido, Muniz Sodré (1996) defende que a noção de interesse público é crucial para o produtor da notícia. "Para o código jornalístico, o interesse por um evento está em relação direta com a sua atualidade e sua significação social e em relação inversa com a distância psicológica entre o lugar do fato e o do leitor" (p.140). No entanto, essa relação de proximidade é muito relativa na web, já que o fluxo de informações é muito amplo e é o leitor-ator-internauta que define como será sua leitura, qual caminho seguirá.

Quanto à atualização – Como comentado anteriormente, os blogs foram atualizados com mais freqüência que os sites dos jornais e rádios. Como a linguagem dos blogs é diferente, mais coloquial, exige menor esforço de produção do tipo entrevistas e fotografias, a atualização é feita quase em tempo real, numa média de 5 minutos, já nos meios on-line tradicionais esse período passa a ser de 10 a 30 minutos. Conforme Pierre Lévy (2000) o tempo real, que é a busca incessante na rede, designa a imediatez da transmissão, do cálculo e da resposta, o tratamento e a apresentação das informações. "No horizonte das acelerações, no olho do ciclone das velocidades, o tempo real, imóvel, move o espaço-tempo das mercadorias. O tempo real é a realidade do tempo mercantil" (p.153) Embora os jornais on-line e as rádios na web também persigam o ideal de tempo real, como definido por Lévy, na prática há uma diferença considerável do fato até a notícia ser disponibilizada na rede, tudo porque embora se esteja rumando para um novo jornalismo, ainda se faz muito uma transposição das práticas do impresso. E a questão mercantil também é relevante, já que jornais como O Globo e Folha são antes de tudo empresas e adotam posturas um tanto mais cuidadosas que os blogs. No caso do Globo, por exemplo, o blog de Moreno é uma alternativa para que se diga o que se quer dizer sem que o nome do jornal como um todo esteja em jogo.

Quanto ao conteúdo – Os jornais e rádios on-line ofereceram aos usuários da web uma cobertura ampla, com recursos multimídia, ou seja, com a utilização de fotografias, entrevistas em áudio, transcrições dos discursos e seqüências de imagens. Até mesmo a repercussão das denúncias de corrupção em outros países foi apresentada. Segundo Pollyana Ferrari (2003), o conteúdo tornou-se a palavra da moda no tempo da proliferação de sites. "Os elementos que compõem o conteúdo on-line vão muito além dos tradicionalmente utilizados na cobertura impressa – textos, fotos e gráficos. Pode-se adicionar seqüências de vídeo, áudio e ilustrações animadas. Até mesmo o texto deixou de ser definitivo"(p.39)

No entanto, os blogs apresentaram um conteúdo diferenciado, sem fotografias ou gravações, mas com textos curtos, frases na ordem direta, geralmente sem a utilização das tradicionais "aspas" do jornalismo impresso. O destaque foi mesmo para a informação, para a transposição de trechos do depoimento do deputado do PTB. O blog de Ricardo Noblat apresentou um conteúdo mais amplo que o de Moreno, pois além de ser atualizado constantemente desde as primeiras horas do dia, as notícias disponibilizadas valeram-se de alguns recursos multimídia como música ( a seleção da Música do Dia) e charges.

Quanto à tecnologia
– Para que um site na era do jornalismo digital tenha eficácia ele precisa respeitar alguns critérios que definem a acessibilidade. A usabilidade, definida por Pollyanna Ferrari (2003) como um conjunto de características de um produto que definem seu grau de interação com o usuário, é um deles. " Na Internet, onde cada vez mais será preciso prender a atenção do leitor, tanto na oferta de conteúdo como na prática do e-commerce, a usabilidade assume papel essencial" (p. 60) Muitos fatores fazem com que um site seja bastante utilizado, por exemplo se ele atende às necessidades do cliente, como as tarefas solicitadas pelo usuário são realizadas e o tempo de espera entre uma ação e uma resposta. Além disso, todo o design do site conta pontos no quesito usabilidade. Nos blogs a usabilidade é um ponto forte, pois de posse do endereço correto na web são necessários poucos cliques no mouse para acessar o conteúdo e não há muitas ilustrações, geralmente apenas uma duas fotos ou até mesmo só a foto do autor. O design das páginas é, no caso dos dois blogs estudados, bem limpo, sem a utilização de fios ou cores fortes. Mesmo quando há cores de fundo elas não entram em conflito com o texto escrito.
Outro ponto positivo dos blogs é o sistema de exposição das matérias jornalísticas, que seguem o estilo das colunas nos jornais impressos, textos curtos e dispostos na vertical, sem que seja necessário abrir novas páginas para acessar colunas anteriores. As que já não estão mais na página principal podem ser acessadas facilmente clicando em links de arquivo. Os jornais O Globo e Folha também possuem uma boa usabilidade, embora sejam construídos na horizontal em função da quantidade de matérias que contêm a página principal. O número de fotos nos dois jornais não é elevado e geralmente são pequenas, porém são mantidas as mesmas fotografias por longos períodos e só os textos atualizados, o que se torna num ponto negativo pois o leitor pode Ter a impressão de estar lendo uma matéria velha. Até porque, muitas vezes, os jornais apenas substituem a chamada principal, mantendo todos os demais textos abaixo, sem situar o leitor recém-chegado que não acompanhou toda a cobertura e que, dificilmente, irá abrir todos os links de matérias disponíveis.
Com relação ao número de cliques, eles aumentam conforme o site. Por exemplo, no Globo há um menu na lateral esquerda da página que permite acessar só o conteúdo de interesse, embora na página principal estejam disponíveis outras inúmeras informações que para serem lidas na íntegra precisam ser acessadas separadamente. Neste processo, em alguns momentos, antes do conteúdo ser disponibilizado, propagandas de empresas ou produtos à venda aparecem na tela.
No que diz respeito ao banco de dados a Internet, pelo apurado, é extremamente eficaz. Os arquivos, tanto das colunas dos blogs como das notícias dos jornais e rádios on-line, são amplos, podendo ser recuperadas matérias e entrevistas de vários dias e, às vezes, de meses. No caso dos jornais Folha e Globo alguns links com o que já foi noticiado sobre o assunto são colocados no pé das matérias, favorecendo assim, para os interessados, ampliar os assuntos e retomar o que já foi publicado, tudo ao alcance de apenas alguns cliques no mouse.
Por fim, a tecnologia multimídia que também conta pontos para a acessibilidade está cada vez mais sendo aprimorada. No site da rádio CBN as entrevistas feitas com parlamentares sobre o mensalão e a CPI dos Correios foram disponibilizadas, bastando esperar alguns segundos para que o conteúdo fosse baixado no computador do usuário. As redes de televisão na web também aproveitam suas produções para colocar à disposição dos usuários da rede seqüências de imagens e áudio. Neste ponto, os blogs perdem para os meios on-line tidos como tradicionais, porque ainda não trabalham com toda a capacidade tecnológica que a internet possui. Porém, ao que tudo indica, só ainda.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home