Mestrado MCL - Pesquisa

Esse blog foi criado para a troca de informações entre alunos e professores do MCL - Mestrado em Comunicação e Linguagens da UTP. A idéia é facilitar o intercâmbio de dados para o desenvolvimento de pesquisas da área.

Monday, June 27, 2005

Blogs comos armas dos cidadãos

Enquanto deputados e ministros discutiam em Brasília o destino da política brasileira no ano de véspera das eleições presidenciais, no último dia 14 de junho, um novo modelo de jornalismo demonstrou estar surgindo. Se nos Estados Unidos ou na Europa os diários on-line, os chamados blogs, já se tornaram corriqueiros, na mídia brasileira esta modalidade ainda está sendo debatida e revelada. Os meios de comunicação de massa como os jornais, rádios e televisões já vinham, gradativamente, se preparando para o mundo da Internet, disponibilizando grande parte de seus conteúdos on-line. No entanto, a rede mundial de computadores traz a cada dia inovações e os blogs, que surgiram primeiramente como uma febre entre adolescentes, se transformaram em fontes de informações preciosas. O jornalismo digital ganhou mais um aliado. Os blogs jornalísticos, independentes ou afiliados a grupos de comunicação, estão se difundindo e se reproduzindo na web como se fossem vírus, de um tipo que sendo bem usado não faz mal à ninguém.

Ao contrário, a proposta dos blogs jornalísticos é aprofundar a informação fornecida pelos meios de comunicação tradicionais, mesmo os on-line. Tudo porque os blogs fogem do padrão dos veículos, não precisam seguir a fórmula engessada da pirâmide invertida, tampouco se prendem à rigorosidade do lead. Os jornalistas-blogueiros, muitos que ainda atuam em jornais impressos ou on-line, utilizam os blogs como um espaço para que a função social do jornalismo, de informar e permitir a participação do leitor, seja atingida. É na web que o jornalismo parece estar alcançando o objetivo de democratizar a informação e de promover a democracia em si.

Porém, como a tecnologia é muito recente e a sociedade não está preparada para as mudanças que a Internet vem propiciando, nem mesmo os próprios meios de comunicação sabem como reagir ao boom dos blogs. Nos Estados Unidos, onde a prática já é mais comum, há veículos que proíbem que seus jornalistas disponibilizem dados em blogs. Outros fazem ainda pior, permitem a criação de blogs desde que seu conteúdo passe por uma edição prévia. A volta da censura, em outro meio, não é justificada em uma época em que se fala em liberdade de imprensa, de opinião e onde a informação está ao alcance de um ou dois cliques no mouse. Segundo o jornalista Alexandre Cruz Almeida, no Brasil o jornal O Globo saiu na frente ao oferecer a seus colunistas a possibilidade de ter um blog. "Apesar de O Globo hospedar esses blogs dentro do seu próprio site, não há qualquer tentativa de controle do conteúdo. Os colunistas-blogueiros não receberam quaisquer instruções sobre que tipo de conteúdo seria adequado incluir nos blogs. A única regra: não deixar o blog parado mais de uma semana. De certo modo, O Globo está brincando com fogo. Alguém que leia um determinado conteúdo em um blog de um funcionário de O Globo dentro do site do próprio O Globo estaria completamente justificado em presumir estar lendo um conteúdo endossado por O Globo."

A preocupação de Almeida é compreensível, já que os editores podem controlar o que é publicado na versão impressa e na on-line, tratando-se de uma empresa de comunicação isto é essencial, porém os blogs não passam pelo mesmo crivo, sendo que legalmente a responsabilidade da empresa jornalística é a mesma. O risco é de que as posições dos blogueiros passem a ser encaradas como posições oficiais e acarretem danos como processos judiciais. Há quem pense que os blogs não representam risco algum por serem ainda muito pouco utilizados. Ledo engano, embora não se esteja falando de meios de comunicação de massa, o jornalismo feito pelos blogueiros é "consumido" por um número elevado de usuários da Internet que de alguma forma podem afetar os formadores de opinião. No caso específico da CPI dos Correios foi o que aconteceu. Conforme o consultor de marketing on- line, Alessandro Barbosa Lima, o blog do jornalista Ricardo Noblat fez com que o deputado petista Eduardo Suplicy fosse favorável à instauração da comissão parlamentar, contra os próprios colegas de partido. " Suplicy assinou a CPI dos Correios depois de ler os comentários dos blogueiros sobre o tema no seu blog. Noblat fez a afirmação em entrevista a Jô Soares, na Rede Globo, nesta terça-feira, dia 31 de maio. Os blogueiros usaram a ferramenta de comentários do blog do Noblat demonstrando serem a favor da assinatura da CPI. E o senador Suplicy, como político orientado pela opinião pública, não titubeou ao considerar este comentários como um termômetro do que pensam seus futuros eleitores". Desta forma, Lima destaca que os blogueiros podem, sim, influenciar microaudiências e afetar todo o país.

No caso do depoimento do deputado do PTB, Roberto Jefferson, na comissão de ética da Câmara de Deputados, os blogs tiveram um impacto considerável nos meios de comunicação tidos como tradicionais. Os blogs de Ricardo Noblat e Jorge Bastos Moreno trabalharam com uma agilidade improvável no jornalismo até então, pois as redes de televisão precisam de imagens e textos, as rádios de sonoras e os jornais impressos e on-line de material suficiente para ilustrar e preencher as páginas com entrevistas com no mínimo duas ou três fontes. Os blogs, por não terem uma linguagem definida, nem uma legislação, fizeram um jornalismo ágil, sem a preocupação com a objetividade que já se sabe que é só um mito.
Em cada texto foi possível perceber posições, até porque os dois jornalistas construíram suas narrativas de forma atrativa, com verbos no presente, expressões coloquiais e muita ironia. Eles possibilitaram a rememoração de fatos já ocorridos como o caso de Fernando Collor e das denúncias de Waldomiro Diniz. Com relação à importância dada ao tema, foi algo estrondoso, pois os blogs ocuparam-se o dia todo de transmitir informações da situação política. A única informação que quebrou esta corrente foi a do número de acessos.

O conteúdo das notícias postas, embora "aparentemente" mais fraco por se tratar de informações-pílula, foi bastante amplo e completo. Os detalhes do depoimento, as implicações sociais, os dados de novos escândalos... tudo foi apresentado, inclusive os contrapontos da questão com posições de outros parlamentares e integrantes do governo.

Em contrapartida, o conteúdo das notícias veiculadas nos jornais on-line seguiu o padrão do jornalismo impresso, com textos longos, depoimentos com aspas e travessões. A questão do estilo ficou de lado, sendo o texto sempre colocado de forma a proporcionar um ar de credibilidade, de distanciamento dos meios para com a questão. Além disso, ocorreu uma padronização das coberturas, já que todos os jornais on-line ou não, publicaram alterando apenas algumas palavras que Roberto Jefferson recebeu R$ 4 milhões de reais e que José Dirceu estava com "as mãos limpas". Essa padronização do texto selecionado e publicado é o que confirma a hipótese do agenda setting defendida por Maxwell McCombs e Donald Shaw desde a década 70. Por esta hipótese os meios, ao definirem o que merece ou não ser transformado em notícia, definem também a agenda dos leitores e determinam não como pensar, mas sobre o quê pensar. A CPI dos Correios e o depoimento de Roberto Jefferson serviram como um bom exemplo de agendamento por parte da mídia, mas mais do que isso, serviram para mostrar que os blogs podem ser uma alternativa para quem já está cansado de ver sempre o mesmo. Os blogs podem ser uma arma nas mãos dos cidadãos, se estes souberem utilizar a web para saírem do comodismo e partirem para a ação, nem que seja apenas por meio de seus comentários.



Referências bibliográficas (postagens Ana)
BERLO, David K. O processo da comunicação: Introdução à Teoria e à Prática. 9ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. São Paulo: Contexto, 2003.

LÈVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3ª edição. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

MEDITSCH, Eduardo. O conhecimento do jornalismo. Florianópolis: Ed. UFSC, 1992.

MOHERDAUI, Luciana. Guia de estilo Web: Produção e edição de notícias on-line. 2ª edição. São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2002.

SILVA, Juremir Machado da. A miséria do jornalismo brasileiro: As (in) certezas da mídia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

SODRÉ, Muniz. Reiventando a cultura: a comunicação e seus produtos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

Sites utilizados:
http://radioclick.globo.com/cbn acesso em 14/06/2005
http://oglobo.globo.com/online acesso em 14/06/2005
http://folha.uol.com.br/ acesso em 14/06/2005
http://jbonline.terra.com.br/ acesso em 14/06/2005
Blogs fazem jornalismo?
http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/destaques-038.htm
Os Jornalistas e Os Blogs
http://www.sobresites.com/alexandrecruzalmeida/artigos/jornalistas.htm
Blog influencia CPI
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI543918-EI4831,00.htmlBLOGS
Ricardo Noblat
http://noblat.blig.ig.com.br/
Jorge Bastos Moreno
http://oglobo.globo.com/online/blogs/moreno/default.asp

SITES X BLOGS: Quem ganha e quem perde na web?


Quanto ao valor da notícia – Os blogs deram mais atenção à cobertura do depoimento de Roberto Jefferson na Câmara do que os jornais e rádios on-line. Não que os demais veículos não tenham disponibilizado informações sobre o caso, mas tiveram de dividir espaço com outros assuntos que foram surgindo durante o dia. No entanto, numa espécie de acordo tácito todos os jornais e blogs avaliados deram grande importância às denúncias de corrupção, denúncias estas que desde o dia 14 de junho passaram a pautar a mídia brasileira e até mesmo a internacional. Talvez em razão dos dois blogs, o de Moreno e de Ricardo Noblat, abordarem especificamente política, a cobertura pôde ser mais ampla e mais eficaz.

Entretanto, é importante destacar que a crise política brasileira tornou-se um assunto de inegável pertinência, sendo que a grande diferença dos blogs para os jornais on-line em termos de abordagem da notícia foi o grau de aprofundamento. Por mais que os blogs trabalhem com textos bem curtos, com frases e com opiniões, ao que parece as informações foram mais completas, mais amplas e receberam maior destaque, tanto que os jornalistas responsáveis pelos blogs não ousaram tocar em outros assuntos durante o dia 14. A pauta foi constituída somente de dados sobre a corrupção e a crise política, desde os bastidores. Uma hipótese que justificaria essa exclusividade é a de que o público dos blogs é bem específico, bem segmentado, diferentemente dos demais meios de comunicação na web. Muitas vezes as notícias eram dadas primeiro nos blogs e depois se transformavam em matérias nos demais veículos on-line, pois assim já se tinha uma prévia do interesse público.
Neste sentido, Muniz Sodré (1996) defende que a noção de interesse público é crucial para o produtor da notícia. "Para o código jornalístico, o interesse por um evento está em relação direta com a sua atualidade e sua significação social e em relação inversa com a distância psicológica entre o lugar do fato e o do leitor" (p.140). No entanto, essa relação de proximidade é muito relativa na web, já que o fluxo de informações é muito amplo e é o leitor-ator-internauta que define como será sua leitura, qual caminho seguirá.

Quanto à atualização – Como comentado anteriormente, os blogs foram atualizados com mais freqüência que os sites dos jornais e rádios. Como a linguagem dos blogs é diferente, mais coloquial, exige menor esforço de produção do tipo entrevistas e fotografias, a atualização é feita quase em tempo real, numa média de 5 minutos, já nos meios on-line tradicionais esse período passa a ser de 10 a 30 minutos. Conforme Pierre Lévy (2000) o tempo real, que é a busca incessante na rede, designa a imediatez da transmissão, do cálculo e da resposta, o tratamento e a apresentação das informações. "No horizonte das acelerações, no olho do ciclone das velocidades, o tempo real, imóvel, move o espaço-tempo das mercadorias. O tempo real é a realidade do tempo mercantil" (p.153) Embora os jornais on-line e as rádios na web também persigam o ideal de tempo real, como definido por Lévy, na prática há uma diferença considerável do fato até a notícia ser disponibilizada na rede, tudo porque embora se esteja rumando para um novo jornalismo, ainda se faz muito uma transposição das práticas do impresso. E a questão mercantil também é relevante, já que jornais como O Globo e Folha são antes de tudo empresas e adotam posturas um tanto mais cuidadosas que os blogs. No caso do Globo, por exemplo, o blog de Moreno é uma alternativa para que se diga o que se quer dizer sem que o nome do jornal como um todo esteja em jogo.

Quanto ao conteúdo – Os jornais e rádios on-line ofereceram aos usuários da web uma cobertura ampla, com recursos multimídia, ou seja, com a utilização de fotografias, entrevistas em áudio, transcrições dos discursos e seqüências de imagens. Até mesmo a repercussão das denúncias de corrupção em outros países foi apresentada. Segundo Pollyana Ferrari (2003), o conteúdo tornou-se a palavra da moda no tempo da proliferação de sites. "Os elementos que compõem o conteúdo on-line vão muito além dos tradicionalmente utilizados na cobertura impressa – textos, fotos e gráficos. Pode-se adicionar seqüências de vídeo, áudio e ilustrações animadas. Até mesmo o texto deixou de ser definitivo"(p.39)

No entanto, os blogs apresentaram um conteúdo diferenciado, sem fotografias ou gravações, mas com textos curtos, frases na ordem direta, geralmente sem a utilização das tradicionais "aspas" do jornalismo impresso. O destaque foi mesmo para a informação, para a transposição de trechos do depoimento do deputado do PTB. O blog de Ricardo Noblat apresentou um conteúdo mais amplo que o de Moreno, pois além de ser atualizado constantemente desde as primeiras horas do dia, as notícias disponibilizadas valeram-se de alguns recursos multimídia como música ( a seleção da Música do Dia) e charges.

Quanto à tecnologia
– Para que um site na era do jornalismo digital tenha eficácia ele precisa respeitar alguns critérios que definem a acessibilidade. A usabilidade, definida por Pollyanna Ferrari (2003) como um conjunto de características de um produto que definem seu grau de interação com o usuário, é um deles. " Na Internet, onde cada vez mais será preciso prender a atenção do leitor, tanto na oferta de conteúdo como na prática do e-commerce, a usabilidade assume papel essencial" (p. 60) Muitos fatores fazem com que um site seja bastante utilizado, por exemplo se ele atende às necessidades do cliente, como as tarefas solicitadas pelo usuário são realizadas e o tempo de espera entre uma ação e uma resposta. Além disso, todo o design do site conta pontos no quesito usabilidade. Nos blogs a usabilidade é um ponto forte, pois de posse do endereço correto na web são necessários poucos cliques no mouse para acessar o conteúdo e não há muitas ilustrações, geralmente apenas uma duas fotos ou até mesmo só a foto do autor. O design das páginas é, no caso dos dois blogs estudados, bem limpo, sem a utilização de fios ou cores fortes. Mesmo quando há cores de fundo elas não entram em conflito com o texto escrito.
Outro ponto positivo dos blogs é o sistema de exposição das matérias jornalísticas, que seguem o estilo das colunas nos jornais impressos, textos curtos e dispostos na vertical, sem que seja necessário abrir novas páginas para acessar colunas anteriores. As que já não estão mais na página principal podem ser acessadas facilmente clicando em links de arquivo. Os jornais O Globo e Folha também possuem uma boa usabilidade, embora sejam construídos na horizontal em função da quantidade de matérias que contêm a página principal. O número de fotos nos dois jornais não é elevado e geralmente são pequenas, porém são mantidas as mesmas fotografias por longos períodos e só os textos atualizados, o que se torna num ponto negativo pois o leitor pode Ter a impressão de estar lendo uma matéria velha. Até porque, muitas vezes, os jornais apenas substituem a chamada principal, mantendo todos os demais textos abaixo, sem situar o leitor recém-chegado que não acompanhou toda a cobertura e que, dificilmente, irá abrir todos os links de matérias disponíveis.
Com relação ao número de cliques, eles aumentam conforme o site. Por exemplo, no Globo há um menu na lateral esquerda da página que permite acessar só o conteúdo de interesse, embora na página principal estejam disponíveis outras inúmeras informações que para serem lidas na íntegra precisam ser acessadas separadamente. Neste processo, em alguns momentos, antes do conteúdo ser disponibilizado, propagandas de empresas ou produtos à venda aparecem na tela.
No que diz respeito ao banco de dados a Internet, pelo apurado, é extremamente eficaz. Os arquivos, tanto das colunas dos blogs como das notícias dos jornais e rádios on-line, são amplos, podendo ser recuperadas matérias e entrevistas de vários dias e, às vezes, de meses. No caso dos jornais Folha e Globo alguns links com o que já foi noticiado sobre o assunto são colocados no pé das matérias, favorecendo assim, para os interessados, ampliar os assuntos e retomar o que já foi publicado, tudo ao alcance de apenas alguns cliques no mouse.
Por fim, a tecnologia multimídia que também conta pontos para a acessibilidade está cada vez mais sendo aprimorada. No site da rádio CBN as entrevistas feitas com parlamentares sobre o mensalão e a CPI dos Correios foram disponibilizadas, bastando esperar alguns segundos para que o conteúdo fosse baixado no computador do usuário. As redes de televisão na web também aproveitam suas produções para colocar à disposição dos usuários da rede seqüências de imagens e áudio. Neste ponto, os blogs perdem para os meios on-line tidos como tradicionais, porque ainda não trabalham com toda a capacidade tecnológica que a internet possui. Porém, ao que tudo indica, só ainda.

Caso Roberto Jefferson: vulcão político e blogs em erupção

Dia 14 de junho de 2005, o dia em que os brasileiros acordaram com os olhares e pensamentos voltados para Brasília. Independentemente de quem gosta ou não de política, o povo brasileiro observou atentamente o desenrolar da maior crise política da história recente do país. As denúncias de corrupção, que nos últimos meses se tornaram freqüentes, parecem agora estar eclodindo por todos os cantos, com governos, partidos e pessoas sob investigação. E nunca o jornalismo foi tão necessário para a manutenção da democracia como agora. Neste aspecto, o jornalismo não se limitou apenas aos meios tradicionais de massa, mas também aos jornais e blogs disponíveis na rede mundial de computadores. Pode-se dizer que enquanto deputados e ministros se digladiavam em discursos e auto-defesas, os meios de comunicação, inclusive os on-line, travavam batalhas com os blogs na busca pelo furo jornalístico, pela conquista das audiências sedentas por mais.
É importante que fique claro que o objetivo deste estudo de caso não é, no entanto, identificar a concorrência entre os meios tradicionais e os on-line, mas sim verificar o impacto dos blogs no jornalismo on-line sobre o que foi noticiado no dia 14 de junho, quando foi instaurada a comissão parlamentar de inquérito (CPI) dos Correios. No entanto, o destaque do dia foi mesmo o primeiro depoimento do deputado do PTB, Roberto Jefferson, na comissão de ética da Câmara de Deputados com relação às denúncias de que o PT estaria pagando uma mesada, o "mensalão", para os aliados da base governista. Embora os blogs e os jornais on-line, como Globo e Folha, tenham tratado, praticamente, dos mesmos assuntos ao longo do dia 14, a chamada terça-feira negra, as coberturas foram realizadas de forma muito distinta.
Os blogs de Ricardo Noblat (
www.noblat.blig.ig.com.br) e de Jorge Bastos Moreno (www.oglobo.globo.com/online/blogs/moreno) dedicaram o dia 14 inteiro, exclusivamente, a assuntos referentes à CPI e às denúncias de corrupção com atualizações feitas com uma diferença média de 5 minutos, numa agilidade impressionante. Os jornais on-line, pelo pesquisado, também buscaram atualizar seus dados no menor espaço de tempo possível, mas a linguagem jornalística dos sites, ainda muito baseada na do jornalismo impresso, acabou por determinar uma perda de espaço para os blogs. Além disso, assuntos como o julgamento de Michael Jackson, atentados no Iraque, Copa das Confederações, rebelião em presídio e a definição de taxas de juro no país dividiram a atenção e a pauta dos jornais on-line.
Ricardo Noblat, por exemplo, se antecipou às emissoras de televisão e aos jornais ao divulgar que Roberto Jefferson teria se disponibilizado a ter quebra de sigilo bancário e telefônico. Já Jorge Bastos Moreno cogitou, antes de qualquer outro veículo, de forma quase que "despretenciosa" que o ministro da Casa Civil, José Dirceu, deixaria o cargo. Como informações assim, tão relevantes, podem ser questionadas se são ou não jornalísticas? Elas não se baseiam nos mesmos princípios do jornalismo dos meios massivos, baseados no modelo de um-para-todos?
Passo a passo das coberturas

RICARDO NOBLAT
A primeira notícia do dia 14 de junho foi postada às 2h16min e teve como tema o Dia D. Durante a manhã a cada 30 minutos, ou uma hora, um novo dado foi acrescentado no blog. Às 13h57min o jornalista responsável pela página convocou os internautas a também informar, pois " todo cidadão pode ser jornalista, basta saber ver, ouvir e contar". Isto viria a confirmar o que se fala do jornalismo cívico, aquele que conta com a participação efetiva do leitor, do cidadão.
A partir das 14h37min inicia-se, efetivamente, a cobertura do depoimento de Roberto Jefferson, com atualizações feita em um curto espaço de tempo, com uma média de 5 a 10 minutos, chegando em alguns casos à diferença de um minuto. Noblat vai relatando o que está acontecendo na Câmara, detalhes do depoimento, frases, a crítica à imprensa e a posição do povo brasileiro. Às 16h27min escreve "Baixou o nível" onde conta a discussão entre Roberto Jefferson, representantes do PL e o deputado Mabel, quando surgiram os primeiros ataques pessoais. Às 16h43min traz o dado novo de que a bolsa de valores, apesar da "fogueira política", está em alta.
Já por volta das 16h57min faz uma comparação da situação com o caso de Fernando Collor e PC Farias. Assim, o jornalista continua durante a tarde acrescentando trechos comentados do depoimento do presidente do PTB, sempre carregados de ironia. Às 17h19min coloca o texto com o título "Lama no ventilador" numa alusão às futuras denúncias de corrupção que ainda seriam feitas pelo deputado. Às 17h44min, Noblat apresenta a posição de José Dirceu que diz " é mentira".
Às 17h47min, o jornalista- blogueiro aproxima o blog do público que o utiliza ainda mais, ele cita que o número de acessos ultrapassa o tido quando Chico Buarque foi visto beijando uma morena. Seria a política e as denúncias de Roberto Jefferson uma "fofoca" de celebridades? O desejo pela vida alheia? Ricardo Noblat, além de valorizar os internautas que buscaram o site, deixa implícita uma analogia da situação do país, quando a população sai de seu estado de prostração cotidiano ou para debater a vida das celebridades ou para saber mais sob a corrupção no país...retrato triste.
Sob a chamada "Exposição de podres: político assume sua culpa", Noblat traz mais um trecho do depoimento em que Roberto Jefferson assume sua culpa e diz ter recebido dinheiro indevido. Para o jornalista, o depoimento é um fato histórico. Às 19h07min, novo texto. O jornalista confirma que depois de 5h de depoimento, Roberto Jefferson é "o senhor da verdade". Às 19h21min remete o leitor a buscar na memória o caso recente dos escândalos envolvendo Waldomiro Diniz, quando o nome de alguns ministros já foram citados e constata que o governo petista vem cometendo "um erro após o outro". O blog continua sendo atualizado com a mesma intensidade, sendo que às 19h43min um trecho da entrevista da secretária de um publicitário citado no depoimento é transposto da revista Istoé Dinheiro. Às 20h06min o mesmo acontece com trecho de reportagem da revista Veja sobre a mesma secretária, que tem sua moral posta em dúvida. Assim é possível dizer que Noblat traz, ainda que valendo-se de outros meios de comunicação, os dois lados da questão, obtém a isonomia, o contraponto, ao entrevistar membros do PT, de outros partidos e o próprio Roberto Jefferson.
A partir das 20h28min o blog passa a trabalhar com os bastidores, conversas de parlamentares. Uma hora depois, antes de qualquer outro veículo de massa como as TVs abertas e as rádios, Noblat anuncia que serão quebrados o sigilo bancário e telefônico do presidente do PTB, que autorizou a ação e que, portanto, uma CPI será instaurada para investigar. Posteriormente, Noblat continua atualizando o site.

JORGE BASTOS MORENO
O primeiro texto de Moreno é editado à 1h08min do dia 14 de junho com o título "Chegou a hora da verdade". No texto ele intitula o dia como a "terça-feira negra" e garante que o blog passará o dia "buscando informações além da cobertura convencional". No momento, o jornalista aposta que Roberto Jefferson tenha provas de suas denúncias. Moreno só volta a escrever por volta das 14h30min, exatamente a hora em que estava agendado o início do depoimento. Ele conta detalhes da saída do deputado de seu apartamento, da escolta da polícia e também aponta o dia como histórico. Às 15h10min, logo após o início do depoimento na Câmara, Moreno afirma sobre as acusações que é "Teatro, só teatro". Às 15h17min atualiza o blog novamente dizendo que governo passa a respirar, já que Roberto Jefferson não possui provas.
Às 15h22min, o blog é utilizado para a reprodução de um trecho do depoimento. Já às 16h27min, o jornalista situa o leitor ao dizer que antes de cada pergunta, parlamentares fazem discursos políticos. Às 17h44min o blog traz à tona os boatos da demissão do ministro José Dirceu, garantindo que os boatos já foram desmentidos. Ao atualizar o site às 18h28min, Moreno torna público um encontro de ministros, Dirceu, Palocci e Paulo Bernardo e que eles não estariam assistindo ao depoimento. Para anunciar a reunião, Moreno utiliza-se da expressão NESTE MOMENTO, o que agrega ao blog uma característica de em tempo real.
Às 19h35min, o jornalista escreve uma espécie de crônica curta sob o título "O show já terminou". Ele acrescenta dados sobre a secretária do publicitário apontado como ligado ao PT e analisa a situação política do país, não mais atualizando o blog.

JB ON LINE
14h30min – Depoimento de Roberto Jefferson na Câmara é o assunto principal do site
14h57min- É atualizado com a matéria que diz "NESTE MOMENTO inicia depoimento", também referindo ao jornalismo em tempo real. Site é atualizado com freqüência, mas fotos são mantidas por longos períodos, assim como a matéria principal.

CBN
14h30min- A página principal do site trabalha o tema, sendo disponibilizado entrevistas para serem ouvidas via computador. Foi atualizado durante todo o dia, mas com uma demora bem maior que os blogs.

GLOBO ON LINE
14h30min – O site do jornal na internet também apresenta manchete e chamadas principais sobre Roberto Jefferson, no caso oito chamadas. Inclusive para os cadastrados para receber boletins via e-mail, texto são mandados diariamente sobre o caso, às vezes até dois por dia. O início do depoimento é destacado, sendo que depois site é atualizado, mas sem haver a troca da matéria principal e da foto. As novas informações aparecem no Plantão.
18h23min – É divulgada notícia em que Roberto Jefferson diz que Dirceu pode transformar Lula em réu. Na ocasião são reproduzidas as palavras do deputado do PTB, principalmente o embate com o presidente do PL, Valdermar Costa Neto.
20h55min- Em três parágrafos, site traz a informação de que Polícia Federal irá ouvir Roberto Jefferson sobre gravações dos Correios. Da Agência Brasil
21h03min- Já havia outra notícia, esta do Globo, em que deputado do PFL garantia que "Lula tem culpa, embora não tenha dolo".
OBS: O interessante é que site chama para maiores detalhes no blog de Moreno

Sunday, June 26, 2005

Interação: princípio da comunicação

Para David Berlo a relação de interdependência entre o emissor e o receptor é uma condição essencial para a comunicação humana. Segundo o autor, para que a comunicação seja efetivada é preciso que haja uma influência mútua entre a fonte e quem recebe a mensagem, pois um precisa do outro para a própria existência. Além disso, seguindo a linha de pensamento de Berlo toda ação comunicativa exige uma reação, que irá resultar em uma resposta, ou seja, num feedback. No entanto, o ideal da comunicação é a interação, que é a base da Internet.

"O termo interação denomina o processo de adoção recíproca de papéis, o
desempenho mútuo de comportamentos empáticos. Se dois indivíduos tiram
inferências sobre os próprios papéis e assumem o papel um do outro ao mesmo
tempo, e se o seu comportamento de comunicação depende da adoção recíproca de
papéis, então eles estão em comunicação por interagirem um com o outro. A
interação é a meta, o ideal da comunicação humana"(BERLO: 1999, p.134-135)


No jornalismo digital feito pelos blogs essa interação parece ser reforçada, porque é permitido ao leitor participar de forma efetiva, não em uma pseudo interação onde o receptor apenas escolhe dentre aquilo que lhe é oferecido para escolher. Na Internet e, principalmente, com os blogs há uma troca de dados, há a interdependência defendida por Berlo, pois a fonte passa a prescindir da audiência com seus comentários, suas contribuições e até suas críticas. Poderia se dizer então que a comunicação oferecida pelos blogs é a ideal? Não, ao menos ainda, já que os blogs são muito recentes e seus efeitos na sociedade não são ainda conhecidos. Porém, de alguma forma o ideal de comunicação é perseguido e, em não raras vezes, se obtêm sucesso.

Blogs: a informação no centro do palco


O jornalismo está passando por um momento de transformação, onde mudam-se conceitos e formas de produção da notícia em virtude da própria mutação, quase invisível e gradual, por que passa a sociedade em termos de valores éticos e morais. Mediante as novas tecnologias que surgem e se difundem o que pode ser entendido como jornalismo? Para Eduardo Meditsch (1992 ) o jornalismo se sustenta num tripé formado pelas linguagens, pelas tecnologias e pelos modos de conhecimento. Meditsch defende que o jornalismo tem uma ampla importância social no sentido de produzir conhecimento e de torná-lo acessível a todas as pessoas. Dentro desta ótica a Internet encaixa-se perfeitamente. O jornalismo digital, que vem a cada dia ganhando mais adeptos, trabalha com uma linguagem, ainda não bem formatada, que valoriza a fórmula da informação - pílula, fácil de ler e para ser consumida rapidamente, onde o que realmente importa são os fatos e a velocidade com que eles são disponibilizados. Na era do jornalismo on-line a mídia sincroniza os tempos e permite que se tenha a ilusão de um tempo real que não pode ser apreendido.
Juremir Machado da Silva (2000) destaca que o jornalista precisa, antes de todos, estar preparado para a Internet. "Se conseguir tornar-se o grande mediador que sempre foi, o jornalista retomará, em outro suporte, o papel de iluminador, que dá visibilidade ao outro, ao escolhido, e recolhe os benefícios do esclarecimento" (p.34)
Os blogs ( espécie de diários on-line sobre diversos temas) neste sentido levam a um novo tipo de jornalismo, onde o mais importante não é como a matéria foi feita, se foi um repórter que apurou os dados diretamente com a fonte, se é uma cópia do que os demais veículos publicaram... O que importa é a informação, esta escrita de forma sintética, quase como uma crônica, onde os seus responsáveis assumem posições e lançam mão da ironia, do texto poético e de todos os recursos técnicos para transmitir da forma mais eficaz possível esta informação. A notícia baseada na fórmula da pirâmide invertida, ou seja, o mais importante em primeiro lugar, não é abandonada completamente, mas os dados essenciais da informação são transmitidos sem que seja necessária uma ordem, uma hierarquia de valores. A palavra- chave nos blogs de jornalismo é a instantaneidade, é propiciar ao leitor-ator-internauta ( leitor de jornal, ator da notícia e internauta por usar o suporte da internet) uma espécie de liberdade para interpretar e, acima de tudo, se posicionar sobre os fatos apresentados e atualizados de forma tão rápida quanto os frames das próprias páginas.